A cultura brasileira e os megalomaníacos chupins

Narciso (1594-1596), por Caravaggio

Um país precisa de alta cultura e de cultura popular. Para se preservar como nação e perseverar como povo, ambas as formas de manifestação cultural são absolutamente necessárias. Quando uma destas espécies de conhecimento deixa de existir, surge um vácuo que não pode ser preenchido pela outra espécie. Cria-se então um simulacro para ocupar o espaço vazio e, desde então, perde-se o parâmetro comparativo e perde-se o critério analítico.
No Brasil não existe alta cultura há décadas. Nossos antepassados não foram substituídos à altura e o seu vácuo foi preenchido pelo pseudo-intelectual, uma entidade que pode se manifestar como um artista popular acima da média, um revolucionário erudito que leu seis livros ou ainda como o repetidor profissional, o tipo que compõe a maioria e que Lênin gostava de chamar de idiota útil.
Para piorar essa equação, durante o Governo Militar a censura contribuiu para que os falantes falassem menos. Esta dieta poupou os brasileiros de ouvir muita bobagem (Reinaldo Azevedo explica muito melhor AQUI e AQUI) e isso iludiu muita gente, inclusive este que vos escreve.
Duas ausências, portanto, determinaram a nossa má sorte: a ausência dos verdadeiros intelectuais, que foram morrendo ou envelhecendo; e a ausência das tolices dos pseudo-intelectuais. Neste panorama, foi fácil para o Brasil pensar que estava diante de gênios-santos quando na verdade eram mentes medianas e de moral duvidosa. O problema é que eles acreditaram que eram santos e passaram a exigir culto. E receberam através da fama, da idolatria, dos discos de ouro, dos preços dos ingressos... Hoje o culto exige Leis de Incentivo.
Com o fim da censura e a chegada da Internet muita coisa mudou. A inépcia intelectual, a cultura de almanaque, as incoerências e contradições ficaram evidentes. Mentiras sobre Cuba, União Soviética, China e outras ditaduras sangrentas cantadas em prosa e verso por nossos Iluministas, quando desmascaradas, revelaram ignorância e/ou projetos ideológicos por parte de nossos santos-gênios. E este é apenas um exemplo...
Acostumados aos cachês milionários e aos convites para opinar sobre tudo e sobre todos, nossos protótipos de sábios revoltam-se diante da menor indignação. Sua megalomania foi alimentada por décadas de subcultura e agora se sentem ofendidos quando o público rejeita suas obras, ou melhor, rejeita pagar por elas.
Os chiliques são comuns. Ao menor sinal de desaprovação, a versão tupiniquim do intelectual-orgânico de Gramsci reage furiosamente feito moleque mimado porque acredita pertencer a uma casta privilegiada, que merece ser sustentada por todas as outras. Mesmo as camadas mais miseráveis da sociedade devem fazer um esforço para sustentar a casta dos iluminados, formada pelos pseudo-intelectuais e pelos artistas estatizados.
Toda essa história com o Blog do Milhão serve de exemplo. Os defensores da mamata não apenas pensam que o povo é obrigado a financiar os projetos dos ilustres, eles também acreditam que aqueles que não aprovam sua nobre arte são fascistas.
Dá pra discutir com esses chupins?


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