Desta vez uma postagem escrita pelo meu irmão. Um texto realmente sincero. Muito bom!
Brasil, 08 de agosto de 2014.
Hoje, exatamente 1 mês após o vexame que a seleção brasileira nos causou na Copa do Mundo no Brasil, resolvi postar o meu desabafo que escrevi logo após acabar o jogo. Um sincero desabafo.
Quando o Brasil foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de 2014, meu pai, que sempre foi um entusiasmado com esse evento se animou, dizia que essa Copa seria boa para ganhar um dinheiro a mais, já que na última Copa, na África do Sul, ele “brincou” de vender bandeirinhas e bandanas verde e amarela, mais para estar envolvido com esse clima de Copa que ele tanto gostava do que para ganhar dinheiro realmente e, agora, em casa seria especial.
O tempo passou, os anos passaram e 2014 chegou, por ironia do destino meu pai não pôde ver essa Copa em seu país, faleceu em janeiro, no dia 13, o mesmo dia 13 em que 6 meses depois seria realizada a final da Copa no Brasil.
Cheguei a pensar que pena ele não estar aqui para vivenciar a Copa no Brasil, a sua segunda. Na abertura então me emocionei com a sua falta e pensando que ele também estaria emocionado ouvindo o hino nacional. Mas sabem que hoje, depois do que assisti, a seleção brasileira ser goleada de forma humilhante por 7 a 1, um vexame no seu próprio campo penso que realmente Deus escreve certo por linhas tortas.
Meu pai ficaria inconformado com o que assisti hoje, ele que acompanhou Roberto Dias, Canhoteiro, Pedro Rocha, Gérson, Garrincha, Pelé, Zico, Falcão, Cerezo e até os mais recentes Romário, Raí, Ronaldo, Rogério Ceni e tantos outros, que viu o nosso São Paulo vencer o Santos de Pelé em 1963 em um dia que os jogadores santistas fugiram do jogo fingindo contusão e desistiram de jogar para não serem goleados, ele que me ensinou a torcer pelo melhor, não se conformaria com o que assisti hoje.
Um futebol brasileiro com tanta história não pode passar por isso, desde a sua administração, com gente que só pensa no próprio umbigo, pra não dizer o pior, passando pela formação dos atletas até a direção da equipe e seus jogadores, uma bagunça.
Um futebol brasileiro com tanta história não pode passar por isso, um simples gol com apenas 10 minutos de jogo no primeiro tempo não pode virar desculpa e causar o que causou, em treinos e rachões de clubes vemos jogos mais competitivos do que assisti hoje.
O futebol brasileiro com tanta história não pode passar por isso, é preciso sentar e ver o que está errado, mas se sentar os mesmos que estão hoje não adianta. A Alemanha fez isso. Em abril de 2013, Paul Breitner participou do programa Bola da Vez, na ESPN. O alemão falou do futebol brasileiro: 'Precisam aceitar que estão jogando um futebol do passado'. Ele citou seu país como exemplo a ser seguido. Disse que, após perder a final para o Brasil, em 2002, a Alemanha se reforçou, planejou o futuro e seria a favorita ao título da Copa do Mundo no Brasil. Será que ele estava certo? Ou o certo era o Parreira, que afirmou que o Brasil estava com a mão na taça, antes de começar a Copa?
Meu pai ficaria inconformado com a falta de técnica da seleção brasileira, com os erros de passe que tanto o incomodava no São Paulo, lembro que quando víamos jogos juntos ele ficava irritado em ver o time errar tanto toque de bola, e isso na seleção é inadmissível. Com a falta de “identidade” da seleção brasileira, em que mais de meio time que hoje estava em campo a torcida brasileira nunca viu jogar aqui no Brasil.
O futebol brasileiro com tanta história não pode passar por isso, viver apenas de sua história e deixar que ele vire apenas história, eu quero ter o que contar para minhas filhas e meus netos, assim como meu pai fez comigo.
Um desabafo de um apaixonado por futebol, que hoje entende perfeitamente as reclamações que seu pai fazia quando assistia aos jogos do nosso mundo contemporâneo.
Hoje eu entendo e quero ter o que contar.
Por Carlos Costa
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