Mozart e a Musa


Concerto para Violino (K216) de Mozart
Hilary Hahn em apresentação para o Papa Bento XVI e convidados

Agradecimento e respostas

A todos que tiveram paciência...
Estou bastante contente com o retorno que tenho recebido das postagens do blog. Em quantidade e com muita qualidade. Como eu disse em uma das primeiras postagens, a criação deste blog tinha por objetivo principal a organização dos conhecimentos que tenho adquirido em meus estudos. Ao escrever, ordeno muitas das informações que até então estavam desordenadas em minha cabeça e publicá-las leva a reflexões, confirmações e correções que são extremamente importantes para o aprendizado, pois confrontam as verdades com as suas imitações. A crítica, que em um blog se dá por meio dos comentários e e-mails, são essenciais e imprescindíveis para todos aqueles que sabem não possuir a voz da verdade. Agradeço a cada um deles.

Por sorte, tenho recebido comentários muito inteligentes e mesmo quando discordantes, apresentam argumentos relevantes. Na última semana, por exemplo, recebi comentários que questionam minha postura e meus valores em algumas postagens. Como não tenho a intenção de desmerecer estas importantes interferências, resolvi responder às principais questões levantadas com uma postagem específica para cada uma delas. Por isso a demora nas respostas, sobre a qual peço desculpas aos comentaristas.

Foram 4 os principais temas abordados nos comentários e e-mails, todos de certa forma relacionados, mas bem definidos, e serão 5 as postagens para respondê-las, sendo a última um reforço que sintetiza as demais e amplia a abrangência das minhas crenças. As postagens seguirão este roteiro:





Historiografia - 10 obras indicadas por Olavo de Carvalho

Entrada do Arsenal de Veneza pintada por Canaletto em 1732


Entrada do Arsenal de Veneza em foto de 2006


1) Leopold von Ranke. A história dos Papas.
2) Hippolyte Taine. Origens da França Contemporânea.
3) Frederic Maitland. Domesday Book And Beyond: Three Essays in the Early History of England.
4) Edward Meyer. História da Antiguidade.
5) Jacob Burckhardt. A civilização da renascença na Itália.
6) Theodore Mommsen. História de Roma.
7) George Grote. História da Grécia.
8) Ernst Kantorowicz. Os dois corpos do rei.
9) Johan Huizinga. Outono da Idade Média.
10) Modris Eksteins. Ritos da Primavera.

Filósofos e filósofos


Academia de Atenas, por Rafael

A Filosofia não é uma ciência como as outras. Ela não busca entender o objeto por meio de um recorte da realidade, pois busca a unidade, a organicidade. Como define Olavo de Carvalho, a Filosofia é a unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa. Como organizadora do conhecimento, não trabalha com recortes e não separa forma de aprendizado e conteúdo teorético, porque exige absorção do conhecimento apreendido por parte do filósofo. Fazer filosofia é teorizar a experiência real e também experimentar as teorias.

Verdade conhecida,
Verdade aplicada.

Platão

Essa visão da filosofia é o que podemos chamar de Projeto Socrático, que toma forma com Platão e Aristóteles e depois enriquece muito com os filósofos cristãos da Patrística e da Escolástica. Essa “escola”, digamos assim, prega que a verdade pode e deve ser alcançada, não em sua totalidade, mas por pedaços, que juntos vão formando novas verdades e assim por diante. Como pequenos pontos iluminados em um mar de escuridão.

Acredito que os verdadeiros filósofos são aqueles que dão continuidade ao trabalho iniciado na Grécia antiga. Os gregos cristalizaram conhecimentos ainda anteriores, do Egito, da Mesopotâmia, da Pérsia e de outros lugares e na pessoa de Sócrates a busca pelo conhecimento ganhou uma nova dinâmica. Para Platão, método filosófico é praticar o que Sócrates fazia sem qualquer método.

Em nosso tempo, infelizmente, os pensadores mais influentes são aqueles que julgam impossível ao homem conhecer a verdade como ela é, de fato. A maioria dos nossos acadêmicos, da nossa classe letrada, acredita que a realidade é uma projeção e, portanto, não existem verdades absolutas – apenas esta?

As causas desse desvio de rota, que a meu ver está emburrecendo a humanidade, surgem há 200 ou 300 anos [LEIA AQUI], mas hoje o desvio se tornou tão grande que é quase impossível detectar traços de filosofia verdadeira nos "filósofos" cultuados pela academia e pela mídia.

O estudo da filosofia, aliás, tem se transformado numa coisa completamente diferente daquilo que nasceu na Grécia. Seja pela dificuldade de se praticar a filosofia nas Universidades - como bem demonstra este artigo do Lucas Mafaldo, seja pela péssima qualidade dos autores escolhidos. Hoje, filósofo é aquilo que queria Antonio Gramsci, um ideólogo a serviço de uma causa política.

Fica aqui a sugestão: fuja dos ideólogos, fuja dos mentirosos, loucos e incapazes de perceber a harmonia do Universo. Volte-se para os verdadeiros Filósofos. Leia Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Olavo de Carvalho, Mário Ferreira dos Santos...

As origens da burrice contemporânea


Pode parecer estranho, mas acredito que a burrice que contamina o mundo de hoje tem, ao menos sob dois aspectos, origem relacionada à Igreja Católica, mas não pelas mentiras que contam seus inimigos. O problema, a meu ver, é mais embaixo.

Como sabem os que me conhecem ou freqüentam este blog, não caio nas bobagens dos que dizem ser a Igreja Católica inimiga da Ciência, e até já escrevi aqui sobre isso. Se os exemplos de Copérnico e Galileu não bastarem, o livro do Thomas Woods elimina qualquer dúvida. Acontece que a burrice e a vulgaridade que empestearam a nossa sociedade nada mais são do que conseqüências, não da ação da Igreja, mas da sua falta de ação. 

Desde pouco antes da Reforma, mas principalmente no século XVIII, quando os debates científicos começaram a acontecer fora da Igreja, as mentes privilegiadas de Roma não deram a devida importância ao desenrolar dos acontecimentos, e a influência dos autores anticlericais, anticatólicos e até mesmo anticristãos foi crescendo sem qualquer oposição consistente. 

Enquanto padres, bispos e cardeais, além de abdicar da exposição pública aquelas respostas que já estavam assimiladas a todos os membros da Igreja, ainda contribuíram produzindo matéria-prima para o adversário, como foi o caso de Guilherme de Okcham com sua navalha, que após alguns séculos decepou a capacidade de perceber os diferentes níveis causais, comprimindo-os, sempre, na mais simplória delas, a causa material.  
 A Igreja criou armas para seu adversário e, ao omitir-se, contribuiu com o avanço da burrice.

É  evidente que a Igreja não é a única culpada pelo atual estado de coisas. Muito longe disso. Creio que a intelectualidade tem culpa ainda mais evidente e mais condenável. Contribuíram para o desastre intelectual da nossa época os filósofos Descartes, ao exigir a demonstração para o indemonstrável; e Kant, ao separar o inseparável. Ambos inteligentíssimos, cometeram um equívoco no início do raciocínio, uma escolha de premissas falsas, e com a influência que tiveram, seus erros foram levados aos limites do absurdo. Com a ajuda de doentes mentirosos como Marx, e doentes geniais como Nietzsche, a cultura foi contaminada por raciocínios avessos à realidade e cada vez mais distantes da verdade. Teorias inverossímeis, improváveis e até impossíveis passaram a fazer sentido dentro de um universo mental coletivo repleto de premissas falsas. 

Resumindo a culpabilidade da Igreja, sua omissão facilitou a difusão e aceitação de bobagens, seja sobre a Igreja e a religião, seja sobre a própria realidade. Por outro lado, muitos pensadores que saíram do Cristianismo se afastaram do que havia de melhor no pensamento cristão ao tentarem se afastar de tudo que estava relacionado à Igreja Católica. O Cristianismo, como estava simbolizado pelo Catolicismo, sofreu com os ataques à Igreja. E todo mundo saiu perdendo.

Esse afastamento dos valores da Igreja como forma de afastar-se da instituição Igreja, do qual a Igreja é vítima, mas os algozes também o são, além de abandonar todas as conquistas da tradição, levou à errônea interpretação de que o universo é caótico e sem sentido, o que leva, inapelavelmente, à desesperança, depressão, suicídio e outras maravilhas da modernidade, ao mesmo tempo que restringe miseravelmente o horizonte congnocível . O ateísmo dos nossos dias nasce aqui, assim como nascem neste momento todas as teorias modernas que pregam a impossibilidade do conhecimento verdadeiro. Nos dois casos limita-se a capacidade de conhecimento que dispomos, pela nossa própria natureza, e transforma o estudo, a filosofia e a ciência em uma masturbação mental que só pode ser usada ideologicamente, com um fim político. Abandona-se a verdade para fazer política, exatamente como ensinou Gramsci, um estrategista do emburrecimento coletivo.

Pelos frutos, conhecereis a árvore

Hoje, quem raciocina de acordo com o bom senso e a ordem natural da realidade é desprezado pela academia, que tem mais compromissos burocráticos do que necessidades cognitivas; e ignorado pela mídia, que busca justificar sua ignorância alegando desinteresse do público. 

Quando olhamos o desenrolar de todo este processo, que culminou na era mais estúpida da História, para entender a origem de tanta burrice, vemos que durante alguns séculos este distanciamento esteve disperso por toda Europa e toma corpo no Iluminismo e vai evoluindo até chegar em Karl Marx, que aproveita alguns truques de Hegel para criar uma ferramenta de transformação da sociedade. Marx não era um gênio, mas não era burro, era um vigarista. Aproveitou-se da cisão entre razão e emoção proposta por Kant - que a propôs apenas como método de estudo e não como aplicação prática -, para justificar a idéia de uma sociedade materialista - a princípio, já que Marx não era ateu, mas um satanista conforme comprovam cartas que enviou ao seu filho.

Eu poderia finalizar este texto afirmando que a influência de Karl Marx na intelectualidade moderna é a causa de toda estupidez, mas estaria simplificando ao extremo. Poderia dizer também que a origem da burrice é o Iluminismo, mas não estaria sendo preciso. Estes contribuíram imensamente para esse avacalhado mundinho moderno, mas a burrice contemporânea, a qual eu agrego o sentido de baixaria, vulgaridade, desinteresse, irrelevância e futilidade, surge antes, o Iluminismo apenas a condensou e a modernidade marxista a transformou em um método.

O panorama onde surge o Iluminismo era rico e exótico. As idéias das mentes iluminadas ajudaram a agregar todas as formas de manifestação anticatólicas, das mais racionais às mais obscuras. É neste ambiente que surgem as idéias de um estado totalitário e emerge o poder das sociedades secretas, que vão mudar a política para sempre. Afinal, onde existe a necessidade do segredo e da incompreensão, a ignorância torna-se uma ferramenta de poder.  Pense nisso.

Cui Bono
A quem interessa essa burrice toda?

O Conselho dos Sábios


Antes de começar qualquer estudo, deve-se lembrar que o estudo absolutamente autodidata não existe. O que pode existir é a apreensão de um conhecimento de forma inata, por instinto, intuição ou percepção imediata. Isso acontece com muita freqüência, mas pouco depende das nossas capacidades. Quando se compreende algo pelo estudo, no entanto, sempre se utiliza, de uma forma ou de outra, alguma estrutura didática criada e já utilizada por outro estudante ou mestre. Sempre que se apreende algum conteúdo por meio do estudo, se absorve também a forma com que se apresenta, e esta passa então a ser um dado da memória, que vai agir quando você raciocinar a partir de então. Mesmo como figura de linguagem, continuarei utilizando a expressão autodidata, no entanto, para o estudante que busca a compreensão ou o aperfeiçoamento sem depender de instituições de ensino e sem visar títulos ou graduações, apenas o conhecimento puro e simples. Aqui neste blog autodidata é o estudante independente que não abre mão do conhecimento acumulado contido na Tradição. Fica evidente que para qualquer estudante autodidata, a escolha dos professores é tão importante quanto a matéria estudada. Para enxergar mais longe, suba no ombro dos gigantes.

O homem inteligente, afeito a estudos pesados, logo acha que emburreceu quando, cansado, nervoso ou mal dormido, sente dificuldade em compreender algo. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda, pois esqueceu o pouco que entendia e já não tem como comparar.  

Olavo de Carvalho



Quem acompanha este blog sabe que não dou a mínima para consenso. A História mostra que várias vezes, diante de questões vitais ao conhecimento, a maioria estava errada. Consenso, portanto, não garante veracidade. No entanto, quando uma verdade permanece por muitas gerações, sendo admitida e confirmada pelas mentes privilegiadas de várias épocas, a chance do engano diminui substancialmente. É mais fácil estarem errados todos os cientistas de uma época do que alguns em todas as épocas. Isso porque o passar do tempo decanta as informações desnecessárias e vai deixando as verdades mais translúcidas. Como dizia Tomás de Aquino, veritas filia temporis - a verdade é filha do tempo.

Para diminuir a chance de errar, quando começar um estudo, procure saber quais foram as pessoas que mais estudaram o assunto, em todas as épocas. Procure conhecer as contestações, a evolução dos estudos sobre o tema e tome cuidado com os consensos. Dê preferência à tradição, mas evite tornar-se um nostálgico. Experimente de tudo, mas fique com o que é bom, dizia São Paulo.

O Conselho dos Sábios é um grupo imaginário de pessoas que dominam o assunto a ser estudado. Aqueles que fundaram ou estruturaram as idéias que polemizaram em seu tempo. Este grupo vai se evidenciando logo no começo da pesquisa e vai ajudá-lo a criar as primeiras premissas válidas, com as quais voce irá aferir novos conhecimentos. Com o tempo esse grupo vai se encaixando mentalmente, mas no começo é bom listar os principais nomes. Leia preferencialmente as fontes primárias, e somente após compreender os pensadores originais aventure-se pelos autores paralelos.

Partindo do princípio de que o saber é uma das coisas belas e estimáveis, e que alguns saberes são superiores a outros quer pelo seu rigor, quer por tratarem de objectos mais nobres e admiráveis, por estes dois motivos poderemos com boa razão colocar a investigação sobre a alma entre os mais importantes. Ora o conhecimento sobre a alma parece contribuir também largamente para o da verdade no seu todo, e em especial para o da natureza, pois a alma é,
por assim dizer,  o princípio dos animais.

Aristóteles 
 
 
Como forma de exemplo, para o meu estudo de filosofia eu selecionei aqueles que, dentro do meu parco conhecimento, representam o que já se produziu de melhor na arte de estudar, entender e, principalmente, elaborar as perguntas certas sobre a realidade física e metafísica, aqueles que acreditam na eternidade, e se preocupam com ela. Aqueles que se preocupam com o destino da Alma. São eles os Sábios da Bíblia, Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Leibniz e São Tomás de Aquino. E além das leituras primárias, aprendo sobre eles nos textos e no Seminário do Olavo de Carvalho.
  
 
Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe: outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade.  

Santo Agostinho