Encravado no meio de uma floresta no norte da Califórnia existe um clube misterioso onde bilionários, líderes políticos e executivos de primeiro time se reúnem todos os anos no mais absoluto segredo. O que parece a introdução de um conto de terror é na verdade a descrição precisa de um local onde algumas das pessoas mais poderosas do mundo costumam se reunir durante o solstício de verão do hemisfério norte. O evento tem acontecido há mais de um século e na maior parte desse tempo permaneceu nas sombras, sendo citado apenas em pequenas notas de jornal e sem merecer a devida atenção da grande imprensa.
Sede urbana do Bohemian Clube, em São Francisco |
O Bohemian Club, que fica em um bosque de 11 km², no pequeno Condado de Sonoma, na Califórnia, foi criado em 1872/73 por
artistas, jornalistas e ricaços adeptos do Bohemianismo, uma espécie de hobby
que consiste em praticas artísticas, musicais, comportamentais e espiritualistas, com ênfase
nas atividades consideradas alternativas,
marginais, ousadas e modernas. Ou seja, no início o Bohemian Club era uma
espécie de precursor do movimento hippie, formado por magnatas, aristocratas e moderninhos
ricos que também pregavam amor livre, álcool, experiências de alteração da
consciência e exercícios espirituais que destoavam da moral e das religiões
tradicionais.
O clube surgiu entre conversas no escritório do jornal San
Francisco Chronicle e foi criado originalmente como um espaço para encontros
furtivos em um ambiente urbano. No início as reuniões ocorriam no prédio que ainda
abriga a sede social do clube, na cidade de São Francisco – curiosamente o mesmo
edifício, aparentemente, abriga ou abrigou uma unidade da Sociedade Vedanta, uma tentáculo do Missão Ramakrishna.
A prática do
acampamento no bosque só apareceu seis anos após a fundação do clube, em uma
festa dedicada ao ator inglês Henry Edwards, que acabava de fixar residência na
Califórnia. Nos anos seguintes repetiram o acampamento em outros locais e em
1883 alugaram pela primeira vez o atual bosque cortado pelo Russian River. Em 1899
o clube comprou a propriedade.
Desde a sua fundação o Bohemian Club se caracteriza como um clube privado que preza pela discrição. Os encontros são anuais e seus membros permanecem fechados no clube por duas semanas inteiras (incluindo 3 finais de semana) no mês de junho (+ ou - no dia 21).
Embora nos acampamentos só
se tenha notícias sobre participantes do sexo masculino, entre os membros
honorários encontram-se pelo menos quatro mulheres: a atriz Elizabeth Crocker Bowers , as
escritoras Ina Coolbrith e Sara Jane Lippincott, e Margaret Bowman, esposa do
jornalista e poeta James Bowman, um dos
fundadores do grupo – o funeral dela ocorreu dentro do Bohemian.
Entre os fundadores do Bohemian Club encontram-se artistas,
escritores, músicos e jornalistas. Alguns nomes famosos e outros nem tanto:
- · Ambrose Bierce, escritor de contos de terror e autor de obras satíricas como o “Dicionário do Diabo”. Morreu de alcoolismo após sua esposa cometer suicídio.
- · Henry George, pai do Georgismo, filosofia econômica progressista do final do século XIX.
- · John C. Cremony, autor do primeiro dicionário da língua Apache.
- · Arpad Haraszthy, escritor húngaro, de uma importante família da viticultura.
- · Frederick Whymper, artista plástico inglês e explorador de sucesso. Existe uma montanha com seu nome no Canadá.
- · Hiram Reynolds Bloomer, pintor.
- · Edward Bosqui, escritor.
- · James F. Bowman, poeta e jornalista.
- · Samuel Marsden Brookes, pintor.
- · Henry "Harry" Edwards, ator e entomologista.
- · Sands W. Forman, jornalista.
- · Paul Frenzeny, pintor e ilustrador.
- · Benjamin F. Napthaly, jornalista.
- · Daniel O'Connell, escritor e jornalista irlandês.
- · JC Williamson, ator, diretor e empresário teatral.
Com o passar do tempo passaram a aceitar celebridades de
outras áreas, como política, finanças e indústria. Aparentemente, após a década
de 1930 o clube passou a restringir ainda mais os convites e a dar maior importância
a membros poderosos e com mais influência política. Entre os membros honorários
encontram-se nomes famosos como Jack London, Jennings Cox, criador do drink Daiquiri,
Luis Walter Alvarez, vencedor do Prêmio Nobel de Física em 1968, Glenn Theodore
Seaborg , Prêmio Nobel de Química de 1951, Theodore Roosevelt, 26° presidente
dos EUA e William T. Wallace, Procurador Geral e juiz da Suprema Corte
americana.
A lista dos membros é bastante misteriosa, e muitas vezes
controversa, como costuma acontecer com organizações desse tipo. Alguns nomes aparecem
em listas e nunca foram confirmados, como Clint Eastwood, que supostamente
esteve em um encontro nos anos 1980. Como convidados frequentes podemos
destacar, com toda certeza, Henry Kissinger, que já foi fotografado em uma
situação no mínimo constrangedora, Martin Anderson, assessor da Casa Branca, e
entre os pontuais encontramos Nicholas F. Brady, Secretário de Estado, Helmut
Schmidt. Chanceler Alemão, David Rockefeller, Warren Buffett, David Gergen, John
Kluge, George Bush, pai e filho, Gerald Ford, Richard Nixon, Ronald Reagan,
Bill Clinton e muitos outros executivos de primeiro nível como Samuel Armacost
(Bank of America), Thomas Watson Jr. e John
Fellows Akers (IBM), Richard Morrow (Amoco) e Stephen Bechtel.
Também podemos saber com certeza alguns dos presidentes do
clube:
- · Paul Speegle (1973-75)
- · Carl Arnold (1975-77)
- · W. Palmer Fuller (1977-79)
- · Michael Coonan (1979-81)
- · Patrick O'Melveny (1981-83)
- · William C. Mathews (1983-85)
- · Harry H. Scott (1985-87)
- · George Elliot (1987 -?)
Durante os encontros, os membros são distribuídos entre
cerca de 120 "acampamentos", ou seja, unidades que servem de
dormitório e lazer. Segundo Cathy
O'Brien*, a intenção declarada é proporcionar associações e “incentivar relacionamentos
que visem ‘enriquecer’ a experiência”.
No meio de uma área descampada do clube existe uma estátua de uma coruja, com cerca de 12 metros, toda feita de pedra, e ao seu redor são reunidos os membros em diversas situações. A ave é a mascote do Bohemian e sua imagem está em toda parte, na entrada que leva ao bosque, nas salas de estar, no púlpito, na sede em São Francisco, e até na papelada que poucas vezes vazaram. Ao lado da coruja sempre encontramos a frase “Weaving spiders come not here”, que alguns pensam que significa que o clube não permite conversas sobre negócios, mas eu entendo como um aviso aos intrusos, que podem se enroscar na teia de aranha. O local é fortemente vigiado, com câmeras, sensores de movimento e repleto de seguranças armados.
São João Nepomuceno é uma espécie de patrono do clube. O
santo, que viveu na região de Boêmia, hoje República Checa, era confessor da
corte do rei Venceslau IV, no Século XIV, e foi morto porque não aceitou contar
os segredos ouvidos no confessionário.
Logo na chegada os convidados e membros constituintes são
recebidos e após sentarem-se de frente para a grande coruja participam de uma
espécie de cerimônia macabra, conhecida como Cremação de Care, que consiste em
um ritual repleto de símbolos pagãos (druidas), com velas, tochas, efeitos pirotécnicos, um
sacerdote falando inglês arcaico e ajudantes vestidos de maneira a lembrar os
antigos uniformes da Ku Klux Klan, e culmina com o que parece ser uma simulação
de uma criança sendo queimada. O documentário
Dark Secrets: Inside Bohemian Grove, de Alex Jones registra essa cerimônia. A
gravação ocorreu em junho de 2000, Alex pulou uma cerca e rastejou até o
estacionamento, depois misturou-se aos membros que estavam chegando e foi
levado em um veículo até o local da cerimônia. Segundo ele sua curiosidade
sobre o clube surgiu quando pesquisava a Skull and Bones, sociedade secreta
instalada na Universidade de Yale, de onde saíram vários políticos de destaque
e alguns presidentes americanos, como os Bush.
Uma matéria da Revista Spy de novembro de 1989 diz que o
objetivo desta bizarra recepção é simplesmente libertar os membros e prepara-los
para os dias em que precisam esquecer-se da sua realidade cotidiana e se aproximar
do mundo selvagem. Talvez por isso as acomodações, apesar de luxuosas e
confortáveis, têm um aspecto antigo, exótico e bastante rústico. Peter Phillips,
professor de sociologia, esteve no clube em 1994 como convidado e provavelmente
por isso repete o porta-voz do clube, Alex Singer, que em 2013 disse que os
encontros são apenas para reforçar laços entre os poderosos.
Além dos segredos e dos mistérios que originaram diversas
lendas, pouco sabemos das atividades que ocorrem naquele lugar, mas assim como a
sinistra cerimônia de recepção é possível encontrar na Internet fotos com
evidente influência de rituais satânicos, além de registros de algo parecido
com um baile de máscaras, com membros vestidos de mulher, maquiados como drag
queens e visivelmente embriagados ou drogados.
Outros relatos indicam que entre as sequoias do Bohemian
Clube ocorreram muitas negociações internacionais e decisões políticas
importantíssimas, que influenciaram a vida de todo planeta, como as reuniões ocorridas
em 1942 envolvendo os cérebros por trás do Projeto Manhattan, responsável pela
criação e produção da bomba atômica americana.
Infelizmente é difícil saber exatamente o que ocorre no Bohemian, mas devido ao clima de segredo e ocultismo envolvido, é quase certo que não deve ser algo muito bom.
Na próxima quarta-feira (18/07) vou participar de um hangout no
canal do Daniel Ferraz, e vamos conversar sobre os mistérios envolvidos no
Bohemian Club.
Fontes:
California Digital Newspapers Collection
Annuals os Bohemian Vol. VI – 1973 – 1987
Spy Magazine (novembro 1989, páginas 59-76) - Philip Weiss
Prison Planet Forum
Dark Secrets: Inside Bohemian Grove - Alex Jones
The Bohemian Grove and Other Retreats - G. William Domhoff
Who Rules America Today? - G. William Domhoff
Fritz Springmeier - Bloodlines dos Illuminati
Trance Formation of America - Cathy O'Brien
* Cathy O'Brien é esposa de Mark Phillips e autora do livro “Trance
Formation of America”, de 1995, que aborda Programação Monarca, MK-Ultra,
Projeto Bluebird, Operação Artichoke e outros assuntos relacionados a abusos
psicológicos e sexuais, lavagem cerebral, manipulação e controle mental. Não podemos
acreditar em tudo o que ela diz, pois trata-se de um relato da sua experiência
pessoal e não há tantas provas, mas creio que vale a pena conhecer seu testemunho
e conferir a veracidade de cada afirmação. O mesmo vale para Alex Jones, G.
William Domhoff , Fritz Springmeier . Tenho feito isso para o meu próximo livro,
previsto para 2019.