Por que os brasileiros não reagem? - Juan Arias


Acabo de ler um artigo escrito pelo jornalista Juan Arias, do jornal espanhol El País. O autor "percebe" o Brasil melhor do que boa parte dos jornalistas brasileiros. Digo uma parte porque a outra, menor, conhece até mesmo as entranhas do país, mas não escreve o que sabe.

...

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci – uma espécie de primeiro-ministro – e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que “todos são ladrões” e que “ninguém vai para a prisão”, não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público? É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.

Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo “descontrole” atual em áreas do seu governo e tirou literalmente – diz-se que a purga ainda não acabou – dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.

A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou – e o preço que terá que pagar será elevado – a se desfazer de uma certa “herança maldita” de hábitos de corrupção que vêm do passado. E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?

O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.

As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.

Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).

O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos. E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico. 

Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.

Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado – onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada – os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que – também é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder. 

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14 comentários:

Ale disse...

Quanta verdade!

Somos um pais de pessoas acomodadas... Aceitamos tudo, damos um jeito pra tudo (afinal, se eu tirar proveito, pra que protestar?), e estamos alimentando cada vez mais a mediocridade e a corrupção.

Professores, médicos, policiais, pedreiros... Todos recebem mal, pagam impostos de mais, não tem acesso a boa formação, saúde, segurança,

Estamos nos tornando medrosos alienados... E creio que o pais que deixaremos pra nossos filhos será muito mais vergonhoso e escandaloso do que esse que todo dia, damos corda.

Pátria amada: perdoe a falta de ética, bom senso e coragem de teus filhos!

(...)


Aveeeee: indignação de mais, poucas ações =(
Se continuar, escrevo tantãoooOOOoo a mais...


Um beijo!!!

jefbeck disse...

Só não gostei do direito a abortar...Pois ele já existe, para os casos de estupro e risco para saúde da mãe na gravidez ou algum problema.

Dar o "direito" por lei para qualquer necessidade ou até mesmo uma vaidade é dar oportunidade para o crescimento do aborto, assim como aconteceu nos EUA onde mais de 1,5 milhões de abortos ocorrem ao ano. Isso vai totalmente contra aos princípios cristãos!!! Base de nossa constituição que não é respeitada!

Fusca disse...

Muito boa matéria.
Este blog tem mais um seguidor, o Fusca das charges indignadas.

Ale Costa disse...

Para que fique claro: este blog é contra o aborto. Apesar de indicar muitos textos, vídeos e sites, é evidente que não concordo com tudo que os outros pensam, dizem ou escrevem, mesmo quando são pessoas que admiro. Graças a Deus somos diferentes e já me custa muito concordar comigo mesmo.

jefbeck, acho que ficou claro.
Valeu pelo toque!
Ale.

Anônimo disse...

Ola
Estou na final da ostra poesia, me desculpe por mais uma vez vir lhe pedir votinho para a minha poesia, Precisamos. Mas sem a sua ajuda eu não irei conseguir. Prometo que passando esta fase eu virei comentar apenas sobre o conteúdo de seu cantinho.
Como votar você entra no link …http://ostra-da-poesia-as-perolas.blogspot.com/
No final paginas das poesias esta escrito
VOTE CLICANDO NA PALAVRA COMENTÁRIOS Lindalva 1 comentários
Por favor coloque coloque o nome da autora e da poesia, ( Precisamos ... Maria Alice Cerqueira e o nome do seu blog. para que Lindalva possa confirmar seu voto.
Desde já lhe agradeço de coração.
Tudo do melhor para você.
Abraço amigo
Maria Alice

Simone Audrei disse...

Oiê! Passando pra avisar que tem selinho pra você lá no meu blog. Chama-se: “Selo de Qualidade”, se quiser passe por lá.
Bj

María disse...

Yo pienso que en realidad en todos los paises democráticos buecamos y esperamos lo mismo, como bien dices, que sea más justo, menos corrupto, más igualitario y menos violento en todos los niveles. Por eso somos tantos todavía los "indignados"
En fín... Un besito :)
María

Ghost Writer disse...

Os brasileiros das "Diretas Já", acreditavam que a solução do Brasil seria a implantação da democracia e a "esquerda" no poder.
Somos um país democrático e a "esquerda" está no poder. O povo anda está iludido, infelizmente.

VeraBruxa disse...

Outro dia postei no Facebook para jovens ex-alunos sobre saudade do Movimento Estudantil de 68, das Diretas Já, com o intuito de chamar a atenção sobre o "silêncio" no Brasil. Este texto confirma meu temor: há um silêncio "ouvido" por alguns. Confima, também (oba!) que tem quem fale (escreva) sobre isto.
Vou agora mesmo postar um vídeo com Eduardo Galeano (um querido)falando para jovens sobre um mundo possível dentro deste.
Abraço,
Vera Mosmann

Clicia Brito disse...

Falar da realidade brasileira é não falar da corrupção, da desigualdade social da ética, é como não falar da tal realidade. É como uma relação em cadeia, uma das principais características da sociedade brasileira é a desigualdade social. Mas a corrupção é fruto do descaso da sociedade brasileira, pois se soubéssemos lutar pelos nossos direitos não teríamos ficado parados nos primeiros casos de lavagem do nosso dinheiro, governantes, ministros, toda essa corja política desfrutando de totais luxos com o dinheiro suado do trabalhador. E sabe o que nos fazemos? Achamos que estamos em um show de circo onde nos mesmos somos os palhaços, porém há uma inversão, a platéia está no centro do palco desfrutando do dinheiro publico e os palhaços que deveriam esta no centro do palco estão simplesmente sentados vendo tudo isso acontecer e pior achando graça de tudo. São pouco os que reagem e dão a cara pra bater... o que falta a muitos é vergonha na cara e lutar pelo que é certo!

X disse...

Fizeram dos lobos os guardiães das ovelhas e quem se faz de cordeiro será comido pelo lobos.

Mulheres INDO disse...

OI TUDO BEM ?

mollymell disse...

Gostei de ler esse texto, mas achei que ele viria com alguma luz de pq os brasileiros não reagem.
Os brasileiros não reagem, ponto.
A maioria dos brasileiros não tem o nível médio de educação. Os + educados acham que tudo está bem, pois veem tudo através do próprio umbigo, desde que hoje possam viajar para o exterior, comprar tenis Nike, e outras bobagens desse tipo, eles não estão "nem ai" para a desigualdade social, saúde precária, falta de segurança.
Sou brasileira de alma e coração, vivendo há 16 anos na América, posso falar por experiência das grandes diferenças sobre a diferença que brasileiros e americanos tem sobre o significado de civilidade e sociedade. Enquanto o brasileiro "educado" só pensar em si mesmo nada irá mudar.

Anônimo disse...

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